Tuesday, 10 December 2013

COMO SANTO ANTÓNIO LIVROU DA TENTAÇÃO A CERTA MULHER DE SANTARÉM

COMO SANTO ANTÓNIO LIVROU DA TENTAÇÃO A CERTA MULHER DE SANTARÉM
No mesmo reino de Portugal, em Santarém, nos tempos del-rei Dom Dinis, vivia certa mulher muito pecadora, mas também muito devota de Santo António.
Apertava com ela o demónio constantemente a induzi-la a que se matasse. E à pobre até lhe parecia que o próprio Jesus Cristo lhe segredava ao Coração:
- Ò mesquinha, tantas maldades tens cometido que, só matando-te, te poderás salvar!
E o demónio que assim lá dentro a desinquietava com estas e semelhantes tentações, querendo também vexá-la exteriormente apareceu-lhe em forma humana a falar:
— Eu sou aquele Senhor a quem tens ofendido gravemente, e venho dizer-te que, se fores ao rio Tejo e nele te afogares em satisfação de tuas culpas, todas te hei-de perdoar e te darei a eterna glória.
Ora, aconteceu que, depois de o demónio muitas vezes lhe ter assim falado, o marido, num momento de qualquer arrelia, chamou-lhe «mulher endemoninhada». Sanhuda por se ver escarnecida, desceu em direção ao Tejo — era ao meio da manhã — na intenção de nele se afogar conforme o demónio tantas vezes aconselhara.
Quando passou junto á igreja dos Frades Menores, lembrou-se que era o dia da festa de Santo António, e entrou a encomendar-se ao Santo. Prostrada diante de sua imagem, toda em lágrimas fez sua oração:
Ó meu Padre Santo António, bem sabeis quanto vos quero! Valei-me nesta aflição. Sê benigno para comigo, e mostrai-me se apraz a DEUS que me vá no rio afogar ou se de todo em todo devo pôr de lado tal ideia.
Quando assim rezava, passou por ela um sono leve, e apareceu Santo António a falar-lhe:
Levanta-te, filha, e guarda este bilhete. Com ele serás livre dessa forte tentação.
E. acordando, viu a mulher que tinha ao pescoço um pedaço de pergaminho, no qual, a letras de oiro, estava escrito: « Eis a Cruz do Senhor! Fugi, inimigos da alma, pois venceu o Leão da tribo de Judá, raiz de David. Aleluia, Aleluia ».
E desde aquele momento foi livre da tentação, e enquanto guardou consigo o bilhete ou breve, nunca mais o demónio a apoquentou.
Soube do prodígio el-rei Dom Dinis — pois o marido o divulgou — e pediu para si o milagroso pergaminho. E o caso foi que, apenas sem ele, logo a pobre mulher começou outra vez a ser tentada.
Compadeceu-se o marido, e como já não podia haver o breve, que dele não se desfazia el-rei, valeu-se dos Frades Menores que a Dom Dinis pediram uma cópia e a trouxeram. E quando a entregaram à mulher, eis que ficou livre da tentação, como dantes quando consigo trazia o breve primitivo. E confessou devotamente seus pecados com lágrimas de contrição, e toda se converteu ao serviço do Senhor.
E por vinte anos ainda viveu santamente, e em paz acabou seus dias.
E el-rei Dom Dinis guardou o pergaminho original entre as suas relíquias que mais prezava, e com ele, por intercessão de Santo António, muitos milagres se fizeram. Em louvor de Cristo bendito. Ámen.

p. 43-45 DEVOTAS ORAÇÕES EN HONRA E LOUVOR DE SANTO ANTÓNIO ( 49 paginas ).


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